Anitta na política

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Uma das principais vozes da música pop brasileira, Anitta tem despertado a curiosidade dos fãs nas redes sociais. Desde o início de maio, o perfil da cantora no Instagram passou por mudanças. Das últimas doze postagens – até a manhã desta quinta-feira, 14 –, seis são sobre política. Duas lives com políticos, duas fotos com mensagens sobre Medidas Provisórias do governo Bolsonaro e um vídeo sobre o desmatamento na Floresta Amazônica completam o cardápio da nova Anitta engajada. Por meio principalmente dos vídeos que ela publica sobre o assunto, dá para ter ideia do que há no caldeirão ideológico da funkeira: “Independentemente de partido, estou começando a entender agora o que é esquerda e direita, com muito orgulho”.
As imagens destoam daquelas que são regularmente apresentadas pela cantora, e diferem mais ainda das publicações de setembro de 2018, quando, em meio às eleições presidenciais e à eclosão do movimento #EleNão, Anitta decidiu não se posicionar politicamente – a despeito de sofrer forte pressão de seguidores para sair de cima do muro. “Eu tenho, sim, o meu candidato e escolhi dentro do que eu acredito, mas assim como vocês eu tenho o direito de ter o voto secreto. Não quero dar a minha posição política”, disse ela na época.
Quase dois anos e uma pandemia de Covid-19 depois, a cantora decidiu que, enfim, era hora de se posicionar. Mas, como cada passo na carreira de Anitta, há um calculadíssimo planejamento. Apesar de falar em suas lives que ainda precisa aprender o beabá da política, a cantora ocupa o tempo ocioso do isolamento para estudar sua nova área de interesse. Um amigo da artista afirma que agora existe “zero possibilidade” de Anitta se filiar a algum partido, mas que ela “nunca descarta nada na vida”. Segundo a mesma fonte, a ideia de se “candidatar a um cargo político não é um plano e nem prioridade na vida dela” – no momento. “Ela precisaria se dedicar e estudar muito”, afirma.
Na verdade, a artista já está fazendo isso. Em sua primeira live, ao lado do deputado federal Fernando Carreras, do PSB de Pernambuco, Anitta começa dizendo que a sessão virtual não é um “debate político” e que ela não é entendedora do assunto. Mas, no decorrer do vídeo, se mostra quase tão preparada quanto uma profissional do ramo para debater com seu interlocutor. A conversa girava em torno de uma medida provisória que tratava dos cancelamentos de serviços e dos eventos dos setores de turismo e cultural em decorrência das medidas de contenção do novo coronavírus. Uma das emendas alterava a cobrança de direitos autorais em eventos públicos e privados, o que foi fortemente criticado pela classe artística – incluindo Anitta. “Ela estava muito instruída”, disse o deputado a VEJA.
O vídeo, feito há uma semana, alcançou nos três primeiros minutos mais de 12 mil espectadores simultâneos e hoje conta com mais de 3 milhões de visualizações. A força foi tanta que no dia seguinte o deputado retirou a emenda de votação, pois apresentava “uma visão dúbia e informações contraditórias”. “O texto poderia ser melhor. Obviamente, não o retirei por causa da Anitta. Eu sou deputado eleito por Pernambuco, não vai ser a Anitta quem vai me fazer retirar um projeto. Questão de consciência”, disse Felipe à reportagem.
Pelo visto, Anitta gostou da sensação de ser uma influenciadora política. A partir daí, por meio dos stories, ela mobilizou seus mais de 46 milhões de seguidores para exercitar seu lado militante. Convidou também a amiga Gabriela Prioli, comentarista da CNN, como tutora e professora para uma aula básica sobre o tema. No vídeo ao vivo que fizeram juntas, Gabriela ensinou sobre a atuação dos três poderes, bem como analisou o papel do presidente, governadores, e emendou com uma breve história sobre a república. Nesta semana, as duas combinaram mais uma aula, desta vez sobre “o que é direita, esquerda, comunismo e capitalismo”.
Após o ataque bem-sucedido à emenda de Felipe Carreras, Anitta convocou seus seguidores a se posicionar contra a medida provisória 910/2019, sobre a regulamentação fundiária, defendida pela bancada ruralista no Congresso. A proposta, chamada pelos ambientalistas de “MP da grilagem”, dispõe sobre a regularização de ocupações em terras públicas federais. Mais uma vez, a artista mostrou que seu “exército é pesado e tem poder”, como entoa em seu primeiro grande sucesso. A pressão teve apoio de outros artistas, como Bruno Gagliasso, Caetano Veloso, Jorge Vercilo, Bela Gil, Mariana Ximenes e Bruna Marquezine.
Coincidência ou não, depois da reação liderada pela cantora, os deputados adiarem a votação para uma nova data. Anitta foi prontamente para seu stories e publicou uma lista com nome e Instagram de cada deputado que votou contra e a favor da medida. “Nós temos o poder. Eles precisam da gente para serem reeleitos. Eu estou implorando neste momento, mandem e-mail para o presidente, deixem sua mensagem nas redes sociais, liguem na TV Câmara”, pregou Anitta. “Vamos anotar quem são as pessoas contra e a favor para decidir em quem votar nas próximas eleições”, disse.
Apesar de verem realizado o desejo de ver sua musa descer do muro na política, alguns fãs já reclamam do excesso de discurseira engajada. “Os fãs estão falando que estão de saco cheio porque eu estou falando de política. Amanhã eu estou aí de bunda para o alto, rebolando, só falando m****. Mas é muito importante falar sobre esse assunto, abrir mão um pouco de momentos de diversão para falar sobre política. Precisamos entender o que é para saber sobre o que podemos fazer para mudar e endireitar o país”, explicou a artista em suas redes sociais.
Vem aí Anitta para presidente? Melhor não duvidar.

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