A consolidação da Aliança pelo Brasil, partido idealizado pelo presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores, passa por dificuldades. A legenda juntou apenas 3% das assinaturas exigidas pela Justiça Eleitoral, e a possibilidade de que a formalização não ocorra a tempo das eleições de 2022 começa a preocupar os partidários de Bolsonaro. Em meio a esse contexto, o ex-deputado Roberto Jefferson ofereceu seu partido, o PTB, para que Bolsonaro seja candidato à reeleição.
O convite não se deu nos bastidores, e sim em uma reunião oficial no último dia 7, da qual fez parte também o ministro General Ramos (Secretaria de Governo).
“Afirmei ao presidente Bolsonaro que tanto o PTB quanto ele e seu governo comungam do propósito de fazer com que o Brasil trilhe o caminho da competitividade, da eficiência, da modernidade e da prosperidade, e que seja um país com mais oportunidades de emprego e de empreender e com menos impostos e menos gastos públicos. E que somos os defensores da família, da vida, da liberdade, da propriedade, da democracia, da justiça e da Pátria, sagrados valores que os comunistas e socialistas tanto tentam destruir mas que nós, os alferes de Deus e leões conservadores, jamais permitiremos”, disse Jefferson ao site oficial do PTB.
O ex-deputado petebista afirmou à Rádio Bandeirantes que avalia em 50% as chances de Bolsonaro ingressar no PTB. Jefferson aposta em uma vinculação ideológica e em uma relação do passado para trazer Bolsonaro. O presidente foi do PTB em um breve período de sua experiência como deputado federal. Esteve no partido entre 2003 e 2005, quando a sigla se reforçou para fazer parte da base do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), então em seu início. Jefferson também tem adotado um discurso com pautas mais próximas das de Bolsonaro, como a defesa do acesso a armas e críticas aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
O presidente do PTB também usa um discurso prático para fortalecer seu partido. Diz que os deputados federais bolsonaristas que estão hoje no PSL são “zumbis”, por terem suas atividades limitadas pela liderança do partido. Jefferson alega que no PTB eles teriam como fortalecerem seu desempenho na Câmara e que poderiam migrar ao Aliança após a formalização do partido. “Não vou prender ninguém”, disse.
O posicionamento do PTB como possível destino de Bolsonaro traz mais um partido a um jogo que já tem outros na disputa, como o PSD e principalmente o Republicanos (o ex-PRB) – sigla que recebeu recentemente dois filhos de Bolsonaro, o senador Flávio e o vereador Carlos.
Jefferson alega que o estatuto atual do PTB está modernizado e preparado para que o partido receba Bolsonaro. O documento foi atualizado em 2018 indicando uma guinada ao conservadorismo.
Em entrevista à Rádio Trianon no último dia 14, Jefferson falou que o novo estatuto do PTB excluiu o “peleguismo” que marcava o documento anterior e também removeu algumas influências da época de Getúlio Vargas. O PTB foi fundado por Getúlio como um partido trabalhista e com fortes características estatistas.
O novo estatuto do partido reflete o alinhamento entre Jefferson e algumas linhas de pensamento de Bolsonaro. “O PTB entende que o cidadão tem o direito à legítima defesa, portanto deve ter direito à posse de arma de fogo, conforme resultado de consulta popular realizada no país com essa finalidade específica e que nunca foi respeitada”, diz um trecho da carta.
Em outros trechos do estatudo, é destacado que o partido vê “a família” como base da educação e que defende o estabelecimento do “Estado mínimo”.
Também na entrevista à Trianon, Jefferson definiu o PTB com uma das frases-lema do bolsonarismo atual: “liberal na economia e conservador nos costumes”.