Integrante do comitê executivo da
Organização para Libertação da Palestina (OLP) e do Conselho Legislativo
Palestino, Hanan Ashrawi considera a decisão de transferir a embaixada
brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém uma bravata de campanha do
presidente eleito Jair Bolsonaro.
Líder do departamento de Cultura e Informação
da OLP, a ex-deputada palestina espera que a medida não se transforme em
realidade. “Não seria bom testar as consequências”, afirma na entrevista exclusiva
à RFI Brasil.
Daniela Kresch, correspondente da
RFI Brasil em Tel Aviv
O que a senhora pensa sobre
essa decisão do presidente eleito do Brasil de transferir a embaixada
brasileira para Jerusalém?
Esperamos que isso seja apenas
conversa e não se transforme em ação, porque se trata de uma decisão ilegal e
muito irresponsável. Seria um passo provocativo e ilegal.
Haverá consequências no
relacionamento entre Brasil e os palestinos?
Se acontecer, haverá sérias
consequências. Esperamos que seja apenas retórica e que não seja implementada. Não seria bom para o Brasil.
Como assim?
Não seria bom para as relações
comerciais do Brasil com o resto do mundo. Não apenas com o mundo árabe ou o
mundo islâmico, mas com todo o mundo. O Brasil seria visto como um país que dá
um passo ilegal e contra as exigências da paz.
Mas a transferência foi uma
promessa de campanha de Jair Bolsonaro.
As pessoas dizem muitas coisas
durante as campanhas. O fato de que ele prometeu não torna a promessa
implementável. O Trump (presidente americano Donald Trump) prometeu muitas
coisas em sua campanha, mas não implementou todas. Trump é repudiado em todo o
mundo. Então, não acho que ele queira estar na companhia de Trump e de Netanyahu (o
primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu) como violadores da lei.
O Brasil ficará isolado, caso
isso aconteça?
Sim, claro. A transferência teria
consequências diplomáticas e econômicas, além de outras consequências. Ainda há
tempo de voltar atrás. Lembro que o Paraguai chegou a transferir a embaixada
para Jerusalém e voltou atrás. Tudo é reversível.
A senhora acredita que seria uma
mudança muito profunda na diplomacia brasileira no Oriente Médio?
Parece-me que o Brasil sempre
teve uma posição de legalidade e moralidade e boas relações com a Palestina e
com o mundo árabe, independentemente de diferenças individuais ou de quem tenha
vencido eleições. Achamos que isso deveria ser uma constante e as políticas do
presidente deveriam refletir essa tradição.
Há uma tentativa da liderança
palestina em tentar mudar a decisão?
Estamos apenas pedindo ao Brasil
para usar sabedoria e responsabilidade e não dar esse passo. Para estar do lado
da justiça e não da ilegalidade. Não seria bom testar as consequências.
FONTE: Br.rfi.fr/brasil
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