Próximo de Bolsonaro e acusado de ‘rifar’ Temer, Pacheco busca sair da sombra de Alcolumbre

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Dois representantes de bancadas governistas, mas com perfis diferentes, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Simone Tebet (MDB-MS) são os dois principais nomes na disputa pela presidência do Senado, cuja eleição será em fevereiro.

Ambos apresentam um histórico de votações muito parecido, apoiando o governo Jair Bolsonaro em pautas importantes, principalmente na área econômica. No entanto, apresentam trajetória e comportamento distintos.

Tebet entrou na política seguindo os passos do pai, Ramez Tebet, que há 20 anos foi eleito para a mesma presidência do Senado. Pacheco, por sua vez, é herdeiro de empresas familiares e entrou na política pelas conexões feitas nos tempos de advogado criminalista de sucesso.

O senador mineiro herdou uma articulação política do seu padrinho, o atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e agora precisa mostrar independência. Tebet, por outro lado, precisa mostrar que não é tão independente e assim romper resistências a seu nome, que começam na sua própria bancada.

Após a primeira semana com as duas candidaturas definidas, o senador mineiro, que tem apoio de Bolsonaro, obteve uma ampla vantagem no apoio de bancadas, reunindo em torno de si oito partidos que reúnem teoricamente os votos necessários para obter a maioria no Senado — 41.

Estão do seu lado aliados improváveis, como Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e a bancada do PT.

Como a votação é secreta, no entanto, pode haver traições internas. E essa é a aposta do núcleo ligado à senadora, após um começo de campanha que começou abaixo do esperado, ao não obter a integridade dos votos que considerava certo, principalmente das bancadas do Podemos (que conta com 9 senadores) e do PSDB (7). Os tucanos racharam e por isso a liderança decidiu liberar a bancada para votarem como quiserem.

Senadores aliados de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) usam o estereótipo mais comum em relação aos mineiros para descrevê-lo: alguém reservado, que trabalha nos bastidores, bom articulador e que sabe aproveitar a oportunidade quando ela aparece.

No caso de Pacheco, ele estava no local certo e na hora certa. Quando o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu, em dezembro, barrar a reeleição para o comando da Câmara dos Deputados e do Senado, o senador mineiro herdou grande parte da articulação que havia sido feita por Alcolumbre. O senador do Amapá tinha a certeza de que permaneceria mais dois anos no cargo.

Pacheco não era necessariamente a primeira opção do senador, que levou vários nomes para a bênção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), como Antonio Anastasia (PSD-MG) e Nelsinho Trad (PSD-MS). Mas a corrida afunilou, com a desistência do primeiro e a rejeição ao segundo. Acima de tudo, pesou a proximidade com o presidente do Senado.

Pouco antes do Natal, Alcolumbre levou seu apadrinhado para um almoço no Palácio do Alvorada, ocasião em que foi efetivamente avalizado. Inicialmente, a promessa era de que Bolsonaro não iria interferir contra a candidatura, declarando uma certa neutralidade.

O presidente, no entanto, começou a fazer vistas grossas quando Alcolumbre e Pacheco passaram a usar a influência do governo nas negociações. Quando cobrado pelo rival, o MDB, em uma reunião com o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), Bolsonaro enfim declarou que o senador mineiro era seu candidato.

Bolsonaro já tinha uma boa relação com Pacheco quando ambos eram deputados federais e, em 2019, quando já era presidente, fez questão de convidá-lo para viagem oficial à Ásia, convite aceito pelo mineiro.

O entorno do presidente reconhece, no entanto, que Pacheco, apesar de ser um provável aliado, não deve adotar a mesma postura governista de Alcolumbre. O senador tem um perfil independente e é crítico da pauta de costumes, cara aos parlamentares bolsonaristas. Em 2019, ele votou contra medida que flexibilizava porte e posse de armas, bandeira eleitoral de Bolsonaro na campanha presidencial de 2018.

Por outro lado, aproximou-se nos últimos dois anos da equipe econômica do governo, ajudando em articulações para avançar a agenda de reformas. Ganhou pontos com Paulo Guedes ao relatar e chegar a um acordo para a votação da nova lei de falências.

Caso eleito, um de seus desafios será sair da sombra de Alcolumbre, principalmente se ele decidir continuar no Senado — há a possibilidade de que o atual presidente da Casa assuma um ministério, abrindo a vaga de suplente para seu irmão, Josiel Alcolumbre, que perdeu as eleições para a Prefeitura de Macapá (AP).

Aliados também avaliam que Pacheco vai precisar administrar um complicado sistema de alianças feito pelo seu padrinho, que colocou no mesmo lado Bolsonaro, bancadas de centro e de direita e o PT. Como vem afirmando em tom de brincadeira um senador, vai chegar a hora em que Pacheco vai precisar trair alguém, agora restaria saber se será apenas um dos atores envolvidos, dois ou os três.

De todos os compromissos assumidos nas alianças, o mais notório é de que não será candidato ao Governo de Minas Gerais. A condição foi articulada pela cúpula nacional do DEM para atrair para sua aliança a segunda maior bancada do Senado, o PSD, com seus 11 votos. Abre espaço, portanto, para as candidaturas de Alexandre Kalil (PSD), prefeito reeleito de Belo Horizonte, ou para o senador Carlos Viana (PSD-MG).

Pacheco pode chegar à presidência do Senado com apenas seis anos de atuação no Congresso, a maior parte dele em um mandato na Câmara dos Deputados. Quando deputado federal, presidiu a importante CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) durante o período em que o colegiado analisava as denúncias contra o então presidente Michel Temer, seu então correligionário no MDB.

Em um ato descrito como de independência pelos seus atuais aliados e de traição pelos antigos, Pacheco indicou como relator da denúncia o deputado Sérgio Zveiter (MDB-RJ), que leu um duro parecer favorável à admissibilidade da denúncia pelo crime de corrupção passiva contra Temer.

FONTE: PE Noticias

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